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, 20 de abril de 2024.
01/12/1998
Volume 1 - Número 1
5. Tratamento cirúrgico do linfedema peniano e escrotal

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Tratamento cirúrgico do linfedema peniano e escrotal

Surgical treatment of penile and scrotal lymphedema

Luiz Alfredo Cardoso, Marcelo Ricardo Santos, Márcio Wolmir da Silva Kelsch, Larissa Torres Cardoso

Cardoso LA, Santos MR, Kelsch MWS, Cardoso LT. Surgical treatment of penile and scrotal lymphedema. Acta Medica Misericordiæ 1(1):17-19, 1998

Serviço de Cirurgia Plástica e Queimados da Santa Casa da Misericórdia de Santos e Faculdade de Ciências Médicas de Santos.

Resumo

O linfedema peniano e escrotal tem conseqüências psicológicas e físicas profundas para o paciente. Nosso objetivo é o relato de um caso de linfedema peniano e escrotal em um jovem de 26 anos, após postectomia seguida de surtos de balanites, bem como a técnica cirúrgica utilizada, a qual trouxe resultados satisfatórios com regressão completa do edema e restauração das funções normais do paciente.

Descritores: Linfedema. Cirurgia plástica. Retalhos cirúrgicos. Linfedema. Cirurgia plástica. Retalhos cirúrgicos.

Summary

Scrotal and penile lymphedema cause profound physical and psychological consequences on the patient. We report the case of a 26-year-old male patient with lymphedema secondary to circumcision complicated with several local infections. Following the surgical treatment, the patient presented complete regression of swelling and restoration to normal functions.

Key Words: Lymphedema. Surgery, plastic. Surgical flaps. Lymphedema. Surgery, plastic. Surgical flaps.

INTRODUÇÃO

Linfedema peniano e escrotal caracteriza-se por uma retenção anormal de fluido linfático no tecido subcutâneo do pênis e escroto, levando a edema, dor, disúria e disfunção sexual. Podemos classificar o linfedema peniano e escrotal de acordo com Bulcley1, conforme sua etiologia, dividindo-o, em primário e secundário.

O linfedema primário envolve três categorias básicas, classificadas de acordo com a idade do acometimento: (1) Edema congênito ou Doença de Milroy’s; (2) Linfedema precoce (desenvolve-se na puberdade); (3) Linfedema tardio (desenvolve-se após 35 anos).

O linfedema peniano e escrotal secundário, de uma forma geral sempre tem etiologia obstrutiva, predominando as causas inflamatórias, devidas a filariose, linfogranuloma, tuberculose, lepra, celulites bacterianas6. Existem ainda outras causas de linfedema obstrutivo decorrentes de esvaziamentos ganglionares ou radioterapia.

É uma patologia pouco freqüente, sendo o secundário (obstrutivo) muito mais comum do que o primário. Têm sido descritas várias técnicas de tratamento, iniciando em 1820 com Delpech, que descreveu a excisão do tecido lesado com reconstrução de pênis e bolsa escrotal com retalhos da coxa. Todas as técnicas descritas subseqüentemente, baseiam-se na ressecção completa da massa edematosa, com excisão de linfáticos superficiais, tecido subcutâneo e pele, até o nível da fáscia de Buck, e dissecção do cordão espermático e testículos. A maneira de reconstrução é que vai diferir, de acordo com o comprometimento tecidual e a extensão da ressecção. A forma de reconstrução pode variar desde aproximação dos bordos remanescentes para revestimento da bolsa escrotal e enxertia de pele em pênis6,7 , enxertia de pele em pênis e bolsa escrotal 4,5 , até rotação de retalhos de coxa para reconstrução da bolsa escrotal3. Charles realizava enxertia com a utilização da própria pele decorticada do tecido edematoso.

RELATO DO CASO

Nosso paciente tinha 26 anos de idade, branco, solteiro, sem profissão definida, com história de aumento de volume peniano e escrotal (fig. 1) há 18 anos, após postectomia, que evoluiu com surtos repetidos de balanites e conseqüentes drenagens cirúrgicas, estenose de prepúcio, retenção urinária, infiltração de urina para os tecidos da vizinhança, flegmão urinoso e linfedema peniano e escrotal secundário ou obstrutivo.

TÉCNICA CIRÚRGICA

O paciente foi submetido à anestesia geral, em decúbito dorsal horizontal, sondagem vesical com sonda de Foley nº 18. Foi realizada decorticação de todo tecido alterado do pênis até a fáscia de Buck
(fig. 2) e da bolsa escrotal (fig. 3) até a túnica albugínea com exposição dos testículos. Após hemostasia, foi realizada fixação destes para evitar torção.

A reconstrução da bolsa escrotal foi feita através do descolamento lateral dos tecidos remanescentes e aproximação na linha média com pontos subdérmicos com fio Monocryl 4.0.

A reconstrução peniana foi realizada com recobrimento da área cruenta com enxerto de pele parcial (3/4 de espessura), retirado com dermátomo de Brown da região lateral da coxa (fig. 4), que foi fixado e suturado na rafe mediana por meio de interdigitações do enxerto com o objetivo de evitar retrações na linha média.

Curativo de Brown foi feito no pênis e aberto no quinto dia pós-operatório, com boa integração do enxerto, sendo em seguida trocado a cada dois dias. A bolsa escrotal foi protegida com curativo oclusivo simples, trocado diariamente. A área doadora do enxerto foi tratada com gaze furacinada, trocada após o quinto dia. A sonda vesical foi retirada oito dias após a cirurgia e os pontos penianos quinze dias após a mesma. O paciente teve alta hospitalar no nono dia de pós-operatório.

RESULTADOS

O paciente apresentou evolução pós-operatória favorável, sem complicações, sendo acompanhado mensalmente. Apresentou regressão completa do edema peniano e escrotal, restabelecimento do fluxo urinário (fig. 5), recomposição psíquica e social, inclusive com normalização de suas funções sexuais.

DISCUSSÃO E CONCLUSÃO

De acordo com a revisão de literatura6,7, a técnica por nós exposta deve ser utilizada sempre que possível, tendo em vista sua maior simplicidade, menor agressividade e, principalmente, melhor resultado estético e funcional.

Concluímos que o linfedema peniano e escrotal não é um problema do cotidiano do cirurgão plástico, porém este deve estar apto a instituir uma terapêutica eficaz, quando solicitado, agindo efetivamente para diminuir o sofrimento do paciente.

As figuras deste trabalho são apresentadas na edição impressa da Acta Medica Misericordiæ.

REFERÊNCIAS

  1. Bulkley GJ: Scrotal and penile lymphedema. J Urol 1962; 87: 422-429.

  2. Dumanian G, Futrell JW: The Charles procedure: misquoted and misunderstood since 1950. Plast Reconstr Surg 1996; 98:1258-63.

  3. Hirshowitz B, Peretz B: Bilateral Superomedial Thigh Flaps for Primary Reconstruction of Scrotum and Vulva. Ann Plast Sur 1982; 8: 390-396.

  4. Malloy TR, et al: Scrotal and penile lymphedema: surgical considerations and management. J Urol 1983; 130:263-265.

  5. Sakati D, et al: A Surgical approach to penoscrotal lymphedema. J Urol 1996; 156:1170.

  6. Sauer MD, et al: Lymphedema of the penis and scrotum. Clin Plast Surg 1988; 15:507-511.

  7. Steinberg J, et al: A surgical approach to penoscrotal lymphedema. J Urol 1996; 156: 1170.

(*) Os autores: L. A. Cardoso, médico assistente do Serviço de Cirurgia Plástica e Queimados da SCMS, é membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. M. R. Santos e M. W. S. Kelsch são médicos estagiários do Serviço de Cirurgia Plástica e Queimados da SCMS. L. T. Cardoso é médica estagiária do Serviço de Anestesiologia da SCMS.

Endereço/address:

Dr. Luiz Alfredo Cardoso
Av. Ana Costa, 221. Conj.62
Santos, SP, CEP 11060-001 - Brasil

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