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Médicas na Santa Casa da Misericórdia de Santos

Women physicians in the Santa Casa da Misericórdia de Santos

Rosilene Morales
Serviço de Neurocirurgia da Santa Casa da Misericórdia de Santos

Resumo

Um terço dos médicos do corpo clínico do nosso Hospital e apenas 11% dos chefes de serviço são mulheres. Somente uma atingiu o posto de diretora clínica. Atualmente, nenhuma mulher faz parte do Conselho Técnico Consultivo, da Comissão de Ética Médica ou da Comissão de Ensino Médico. É necessário mudar atitudes para que as mulheres possam aumentar sua participação no Corpo Clínico, principalmente em seus cargos diretivos. A situação no Hospital e a mundial são analisadas.

Descritores: História da Medicina. Médicas. História da Medicina. Médicas.

Summary

Women comprise one third of the medical staff in our Hospital and only 11% of the chiefs of service. Only one ascended to the post of director of the medical staff. Today, there is not a single woman in the Technical Consultive Council, Ethics Committe and in the Medical Teaching Committe. It is necessary to change attitudes enabling the women to increase their share in the Medical Staff, especially in its directive posts. The situation in this Hospital and in the world are analyzed.

Key words: History of Medicine. Physicians, women. History of Medicine. Physicians, women.

INTRODUÇÃO

No passado, a profissão médica era exercida quase que exclusivamente por homens. Essa tendência está, contudo, sendo revertida, fenômeno observado mundialmente4,8. Persistem obstáculos à ascenção profissional da mulher3,6,8.

A primeira mulher a lutar arduamente para alcançar o direito, hoje natural e justo, de exercer a profissão médica no Brasil, segundo o historiador baiano, Prof. Alberto Silva, foi a Dra. Rita Lobato Velho Lopes, diplomada em 10 de dezembro de 1887 pela Faculdade de Medicina da Bahia7.

Uma reflexão sobre a atual participação feminina no corpo clínico da Santa Casa da Misericórdia de Santos se faz pertinente.

MÉDICAS NA Santa casa

Dos 37 serviços existentes, apenas quatro chefias são exercidas por médicas, ou seja, apenas 11% do total. Esse fato ratifica pesquisa que demonstrou ser, no Brasil, baixa a porcentagem de representantes do sexo feminino entre os integrantes do pessoal diretivo, da ordem de 3%.

Da totalidade de médicos do corpo clínico, incluindo chefes, assistentes e credenciados, 33% é composto de mulheres, ressaltando-se a existência de uns poucos serviços em que não há nenhuma médica.

Atualmente, não há mulheres no Conselho Técnico Consultivo, na Comissão de Ética Médica nem na Comissão de Ensino Médico, depreendendo-se que, tanto na parte que rege a atuação profissional quanto no ensino, ainda é extremamente débil a participação feminina.

Em 554 anos de existência da Santa Casa da Misericórdia de Santos, somente uma vez o cargo de diretor clínico foi ocupado por uma médica, a Dra. Vilma Ilka Teixeira de Camargo. Nenhuma médica foi agraciada com o título "membro honorário" do Corpo Clínico, enquanto quinze médicos já foram.

DISCUSSÃO E CONCLUSÃO

O número de médicas aumenta rapidamente no Brasil, assim como ocorre nos Estados Unidos, Israel e em outros países. No Estados Unidos, entre os profissionais da área médica mais antigos, os homens apresentam rendimentos maiores que as mulheres. Essa diferença, contudo, já desapareceu entre os médicos mais jovens1.

Um estudo entre estudantes de medicina da Universidade de Toronto2 demonstrou que a preferência por uma carreira cirúrgica é maior entre homens (27%) do que entre mulheres (10%). Os homens, mais comumente, interessaram-se pelo desafio técnico, potencial de ganhos e prestígio, enquanto mulheres preferiram condições favoráveis de residência, trabalho em período parcial e a possibilidade de se licenciarem para cuidar de filhos.

Um estudo feito em Israel mostrou que suas médicas se concentram nos cuidados primários, como clínica geral, pediatria e psiquiatria, tendo dificuldades para ingresso nas especialidades cirúrgicas. Como as médicas têm uma abordagem mais humanística e personalizada do paciente, o aumento de mulheres na profissão levará a uma mudança qualitativa nessa direção, apesar dos obstáculos administrativos8.

Conclui-se que há que se incentivar, criar condições e mudar posturas para aumentar a participação de médicas no corpo clínico da Santa Casa da Misericórdia de Santos, principalmente em seus cargos diretivos.

Parafraseando Braz Cubas, que em 1543 chamou a Santa Casa de Santos de "Casa de Deus para os homens, porta aberta ao mar", digo "Casa de Deus para os homens e mulheres, porta aberta ao mar da igualdade".

REFERÊNCIAS

1. Baker LC: Differences in earnings between male and female physicians. N Engl J Med 1996; 334: 960-964

2. Baxter N, Cohen R, McLeod R: The impact of gender on the choice of surgery as a career. Am J Surg 1996; 172: 373-376.

3. Brooke E: Medicine Women.Wheaton, Illinois; Madras, India: Quest Books. Theosophical Publishing House, 1997.

4. Frank E, Rothenberg R, Brown WV, et al: Basic demographic and professional characteristics of US women physicians. West J Med 1997; 66:179-184.

5. Gjerberg E, Hofoss D: Is gender of significance for specialization of physicians? An analysis of specialization degree among female and male physicians. Tidsskr Nor Laegeforen 1995; 115: 1253-1257.

6. Ivamoto HS: Médicas, mães paternais, heroínas anônimas. A Tribuna 27 de julho de 1996, p. A-18.

7. Lacaz CS: Ensaios médicos sociais. São Paulo: Fundo Editorial Byk, 1986.

8. Notzer N, Brown S: The feminization of the medical profession in Israel. Med Educ 1995; 29:377-381.

AUTORA: médica assistente do Serviço de Neurocirurgia da Santa Casa da Misericórdia de Santos, é membro fundadora da Soc. Bras. História da Medicina e mebro titular da Soc. Bras. Neurocirurgia.

Endereço/address:

Dra. Rosilene Morales 
Serviço de Neurocirurgia 
Santa Casa da Misericórdia de Santos
Av. Dr. Claudio Luiz da Costa, 50
Santos, S.P., CEP 11075-900 - Brasil
rosilene.morales@uol.com.br

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