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, 25 de abril de 2024.
01/12/1998
Volume 1 - Número 1
8. Células ciliadas da mucosa da orelha média: microscopia eletrônica de varredura

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Células ciliadas da mucosa da orelha média: microscopia eletrônica de varredura

Ciliated cells of the middle ear mucosa: scanning electron microscopy

Julio Rodrigues, Rosemary Malatesta
Serviço de Otorrinolaringologia da Santa Casa da Misericórdia de Santos

Rodrigues J, Malatesta R. Ciliated cells of the middle ear mucosa: scanning electron microscopy. Acta Medica Misericordiæ 1(1):26-28, 1998

Resumo

Realizamos um estudo com microscopia eletrônica de varredura da mucosa da orelha média de pacientes com otite média crônica, de vários tipos, e que foram submetidos a cirurgia otológica. No ato da cirurgia, um pequeno fragmento de mucosa foi retirado e enviado para estudo por microscopia eletrônica de varredura. Evidenciamos as células que fazem o revestimento do forro mucoso da orelha média. Nesse estudo mostramos a presença das células ciliadas que se destacam das outras células pelo característico tufo de cílios presentes em seu bordo livre. Discutimos os aspectos importantes da fisiologia e da fisiopatologia da mucosa e das células ciliadas da orelha média.

Descritores: Células. Histologia. Ouvido médio. Microscopia eletrônica de varredura. Células. Histologia. Ouvido médio. Microscopia eletrônica de varredura.

Summary

Middle ear mucosa from patients with chronic otitis media was studied using scanning electron microscopy. Biopsy of the middle ear mucosa was taken at surgery. The cells which cover the middle ear mucosa were studied. The ciliated cells with their characteristic tufts of cilia in their free border are shown. We discuss the main points about the physiology and physiopatology of the mucosa and of the ciliated cells of the middle ear.

Key Words: Cells. Histology. Ear, middle. Microscopy, electron, scanning.

INTRODUÇÃO

A otite média crônica tem sido motivo de estudos importantes e freqüentes, há mais de cem anos, pelos otologistas de diferentes épocas. A orelha média tem uma mucosa verdadeira, produz muco e esse forro epitelial tem características respiratórias6 . Os estudos atuais através da microscopia óptica, dos métodos histoquímicos, da microscopia eletrônica de varredura e de transmissão, cultura de tecidos e células através de explantes, têm nos dado novas visões para ser melhor entendida a mucosa da orelha média. O forro epitelial da mucosa da orelha média tem várias funções distintas como, por exemplo, absortiva, de defesa, e imunológica. As células ciliadas têm função de limpeza varrendo o muco formado pelas células caliciformes e glândulas subepiteliais. A distribuição das células ciliadas não é uniforme sendo mais concentrada na região próxima à tuba auditiva. A concentração das células ciliadas é reduzida na região promontorial. O objetivo desse estudo morfológico é mostrar as células ciliadas numa visão ultraestrutural.

CASUÍSTICA E MÉTODOS

O presente estudo, realizado em 18 orelhas de pacientes com otite média crônica, sendo 11 do sexo feminino e 7 do sexo masculino, com idade variando entre 8 e 48 anos, foi feito na Santa Casa da Misericórdia de Santos. Todos os pacientes foram submetidos a anestesia geral para cirurgia otológica específica para a doença em questão.

MATERIAL

Com o paciente sob anestesia geral, para realização do procedimento cirúrgico, uma vez exposta a região do promontório da orelha média e tendo visualizado o forro mucoso que cobre a orelha média procedemos à seguinte rotina para a retirada de um fragmento de mucosa: com um bisturi de microcirurgia otológica realizamos uma incisão em U invertido até atingirmos o tecido ósseo. Após ter sido realizada a incisão, descolamos o tecido mucoso com um descolador atraumático e o retiramos com uma pinça tipo saca-bocado. O pequeno fragmento de mucosa era colocado em solução fixadora de Karnovisky e enviado para microscopia eletrônica de varredura.

RESULTADOS

A mucosa da orelha média apresentou um epitélio ciliado, em áreas bem restritas, na região promontorial. Em algumas áreas foi observada a presença de secreção revestindo o forro epitelial. A mucosa na região promontorial estava preenchida, em maior quantidade, por células com microvilos e células lisas. O epitélio ciliado foi de fácil reconhecimento pela morfologia caracterizada pela presença de cílios na superfície externa da célula ciliada.


DISCUSSÃO

 

O forro epitelial da orelha média é feito por uma mucosa. A membrana mucosa é a membrana epitelial que produz muco, delgada, com um tecido conjuntivo subjacente que a suporta. Esta camada de tecido conjuntivo é denominada lâmina própria ou túnica própria da mucosa. O revestimento epitelial da mucosa da orelha média é composto por células ciliadas, células não ciliadas, células caliciformes e células basais.

Fig. 1 Revestimento epitelial da orelha média onde observamos, na região central, área com células ciliadas. Em volta, células com microvilosidades e células lisas. Aumento de 3.400 vezes.
......
Fig. 2 Visão mais próxima das células ciliadas, em
posição central, e células com microvilosidades ao redor. Aumento de 5.600 vezes.
 
 

As células ciliadas são encontradas em toda a extensão da orelha média. Elas participam da defesa do forro mucoso drenando o muco produzido nas células caliciformes. As células ciliadas são encontradas, principalmente, em volta da tuba auditiva . A atividade ciliar é importante para manter o "clearance" da orelha média.

Os cílios limpam corpos estranhos na orelha média, inclusive, contra a força da gravidade7. A drenagem é feita em direção à tuba auditiva. A própria localização da tuba auditiva, sendo superior ao soalho da orelha média, nos mostra que o processo é feito contra a gravidade. As células ciliadas são encontradas em todo o trato respiratório. O cílio possui, ao corte cruzado, dois filamentos centrais e nove periféricos5. Em doenças como a mucoviscidose o diagnóstico é feito por microscopia eletrônica da célula ciliada. O cílio ao corte cruzado, nessa patologia, não possui as características normais acima citadas. Cada célula ciliada possui de quarenta a sessenta cílios e cada cílio tem um comprimento de sete micra.

 

Fig. 3 Células ciliadas espaçadas com células com
microvilosidades e células lisas, entre elas. Aumento
de 5.400 vezes.
......
Fig. 4 Região com resolução máxima obtida de célula
ciliada. Verificar que a distribuição dos cílios é irregular,
não respeitando uma distribuição homogênea.
Aumento de 16.000 vezes.

 

O número de células ciliadas aumenta nos processos infecciosos agudos num mecanismo de defesa do organismo. Na vigência de um quadro infeccioso agudo, uma otite média aguda, o número de células ciliadas está aumentado3. Elas executam um trabalho intenso realizando o movimento vibratório dos cílios. Assim, têm bastante enzimas oxidativas, com capacidade para realizar glicólise anaeróbica e aeróbica para produção de energia e, também, utilizam o sistema citocromo. A energia produzida é utilizada para o batimento ciliar resultando na limpeza e drenagem da orelha média4. A função ciliar, juntamente com o muco produzido pelas células caliciformes, umedecem e protegem a mucosa, formando uma barreira contra infecção9. A freqüência do batimento ciliar é reduzida significativamente em fumantes ativos e passivos levando, com isso, à persistência de infecções na orelha média1. Apresentamos fotografias de microscopia eletrônica de varredura da região do promontório da orelha média onde notamos células ciliadas que são bastante características, diferenciando-se dos outros tipos celulares.

CONCLUSÃO

O revestimento da mucosa da orelha média é feito por células caliciformes, células ciliadas, células com microvilosidades e células lisas. As células ciliadas, vistas à microscopia eletrônica de varredura, têm um aspecto morfológico bastante característico, com presença de tufo de cílios no seu bordo livre. As células ciliadas aparecem na região estudada, do promontório, em pouca quantidade.

 

REFERÊNCIAS

  1. Agius AM, Wake M, Pahor, et al: Smoking and middle ear ciliary beat frequency in otitis media with efusion. Acta Otolaryngol (Stockh) 1995; 115: 44-49.

  2. Ham AW: Histologia. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan, 7a. ed, 1977.

  3. Hermansson A, Prellner K, Hellstrom S: Changes of the middle ear mucosa induced by untreated and penicillin V treated experimental pneumococcal otitis media. Acta Otolaryngol, (Stockh) suppl. 1992; 493: 127-131.

  4. Hiraide F, Paparella MM: Histochemical characteristics of normal middle ear mucosa. Acta Otolaryng. 74: 45-56, 1972.

  5. Kawabata I, Paparella MM: Ultrastructure of normal human middle ear mucosa. Preliminary report. Ann Otol Laryngol 1969; 78: 125-137.

  6. Sade J: Middle ear mucosa. Arch Otolaryng 1966; 84: 41-47.

  7. Sade J: Ciliary activity and middle ear clearance. Arch Otolaryng 1967; 86: 22-29.

  8. Shimada T, Lim DT: Distribution of ciliated cells in the human middle ear. Electron and light microscopic observations. Ann Otol 1972; 81: 203-211.

  9. Tos M: Development of mucous glands in the human eustachian tube. Acta Otolaryng 1970; 70: 340-350.

AUTORES: J. Rodrigues, chefe do Serviço de Otorrinolaringologia da SCMS é mestre pela FMRPUSP. R. Malatesta é médica estagiária do Serviço de Otorrinolaringologia da SCMS.

 

Endereço/address:

Dr. Julio Rodrigues
Serviço de Otorrinolaringologia
Santa Casa da Misericórdia de Santos.
Avenida Dr. Cláudio Luiz da Costa, 50
Santos, SP CEP 11075-900, Brasil

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