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, 02 de maio de 2024.
01/12/1999
Volume 2 - Número 2
3 - As Misericórdias ao final do milênio

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As Misericórdias ao final do milênio

The Misericórdias at the end of the millenium

Henrique Seiji Ivamoto, Editor
Acta Medica Misericordiæ e Centro de Estudos da Santa Casa da Misericórdia de Santos

 

Resumo

O artigo sintetiza o trabalho apresentado no Congresso Mundial das Misericórdias ocorrido em Santos, Brasil, em novembro de 1999. Com ilustrações, as Misericórdias de Portugal, Brasil e de outros países foram apresentadas. O momento histórico atual foi abordado, o final do milênio em que as caravelas ibéricas lançaram-se ao oceano para a maior das descobertas européias _ a do Novo Mundo. O milênio em que a Misericórdia de Lisboa foi fundada, servindo de modelo para outras que foram semeadas pelos cinco continentes. Também, o final do século das duas guerras mundiais, do Holocausto, das bombas nucleares, da destruição da atmosfera, dos rios e dos mares, do extermínio de milhares de espécies animais e vegetais e da destruição de florestas e da vida no planeta, em que o Homem demonstrou ser mais um Homo prædator do que propriamente um Homo sapiens. O século do desenvolvimento da Medicina Tecnicista em que médicos, clínicas e hospitais por vezes se esquecem da simples, dedicada, pessoal e piedosa Medicina Humanista de nossos antepassados. Após a apresentação de algumas poesias humanistas, o autor agradeceu aos irmãos misericordianos que vieram de terras distantes, pela honra concedida a esta Terra da Caridade e da Liberdade* para sediar o Congresso Mundial das Misericórdias.

Descritores: Filosofia médica. Hospitais filantrópicos. História da Medicina. Humanismo.

Summary

This article summarizes the work presented at the World Congress of the Misericórdias held in Santos, Brazil, in November of 1999. With illustrations, the Misericórdias of Portugal, Brazil and other countries were presented. The current historical time was addressed, the end of a millenium in which the Iberian caravels took to the ocean and became protagonists of the greatest of European discoveries to date _ that of the New World. It was also to be the millenium in which the Misericórdia of Lisbon was founded, serving as a model for others that have been seeded through the five continents. This was also the end of a century in which human-kind has seen two world wars, the Holocaust, nuclear bombs, the extinction of thousands of plant and animal species along with their natural habitats; in other words, a century in which Man has demonstrated himself to be more a Homo prædator than properly a Homo sapiens. It has also been the century of the development of Technicist Medicine, in which physicians, clinics and hospitals sometimes forget the simple, dedicated, personal and pious Humanist Medicine of our ancestors. After presenting some humanist poetry, the author thanked the Misericordians who came from distant lands for the honor bestowed on this Land of Charity and Liberty* in allowing it to house the World Congress of the Misericórdias.

Key-words: Philosophy, medical. Hospitals, voluntary. History of Medicine. Humanism.

Este artigo sintetiza o trabalho histórico apresentado como uma das oito conferências do Congresso Mundial das Misericórdias, ocorrido no Teatro Municipal de Santos, Brasil, no período de 24 a 26 de novembro de 1999:

Senhor presidente do Congresso, autoridades, senhoras e senhores. Agradeço ao Senhor Manoel Lourenço das Neves, digníssimo presidente deste conclave, pelo convite à Editoria da Acta Medica Misericordiæ, revista editada pelo Centro de Estudos da Santa Casa da Misericórdia de Santos, para participar, ao lado de tão ilustres conferencistas, do programa deste histórico Congresso Mundial das Misericórdias - "O Mundo Unido pelas Misericórdias em Santos".

     
 
 
     
  Fig. 1: Congressistas defronte à Santa Casa da Misericórdia de Santos. A partir da direita, José Alberto Monteclaro César, presidente da Federação das Misericórdias do Estado de São Paulo; Comendador Manoel Carlos Cálem Carneiro, presidente do Conselho Nacional das Misericórdias Portuguesas; Manoel Lourenço das Neves, presidente do Congresso Mundial das Misericórdias e provedor da Misericórdia de Santos; Elisa Alencar, vice-prefeita de Santos; Sylvio Soares Novaes, secretário do Conselho Deliberativo; Rosilene Morales, diretora cultural do Centro de Estudos; Henrique Seiji Ivamoto, editor da Acta Medica Misericordiæ; Celso Schmalfuss Nogueira, presidente do Centro de Estudos da Santa Casa da Misericórdia de Santos.  
     
 

A HISTÓRIA DAS MISERICÓRDIAS

Com a apresentação de ilustrações representativas, o trabalho abordou as populações nativas pré-colombianas, as grandes descobertas espanholas e portuguesas, Dona Isabel de Aragão (4), Dona Leonor de Lencastre (5, 11, 15, 16), Frei Miguel de Contreras, Nossa Senhora da Visitação, Martim Afonso de Souza, Brás Cubas (12,15), Leonardo Nunes, José de Anchieta (3), Manuel da Nóbrega, Antônio Vieira, Benedito Calixto, o terceiro prédio próprio da Misericórdia santista junto ao Monte Serrate, Cláudio Luís da Costa (13), José Bonifácio de Andrada e Silva, João Otávio, o desastre de 1928, Martins Fontes, Emílio Navajas Filho, a inauguração do quarto prédio pelo presidente Getúlio Dornelles Vargas e o trabalho da irmã Glória Maria, de Passos, Minas Gerais. As Misericórdias de Lisboa, do Porto, de Coimbra, além de outras de Portugal, do Brasil e de outros países, foram apresentadas com fotografias que nos foram enviadas pelos respectivos provedores e outros.

Os trabalhos de alguns destacados misericordianos contemporâneos de Santos, incluindo o Dr. Victor Vallejo Fernandes (9) , o Comendador João Tavares, o Dr. Milton Teixeira e também as colaborações da Prefeitura Municipal de Santos, do jornal A Tribuna, do Rotary Clube e do Lions Clube foram citados.

Agradecimentos foram prestados às colaborações dos Senhores Roberto Antonio da Costa, Mirian Guedes, Clóvis Galvão, Marcio Calves, José Silvares e Marcelo Eduardo dos Santos, do jornal A Tribuna, pela publicação de artigos históricos e de reportagens pertinentes às Misericórdias. Agradecimentos foram feitos também aos Doutores Paulo Roberto Mansur, prefeito municipal, José Gondim de Alencar, secretário de Cultura, Luiz Dias Guimarães, secretário de Esporte e Turismo, José Eduardo Barbosa e Celso Bertoli, jornalistas, pela publicação de cinco mil separatas de artigos históricos da Acta Medica Misericordiæ, lançadas durante o Congresso.

 
     
 
 
     
  Fig. 2. Manoel Carlos Cálem Carneiro, presidente do Conselho Nacional das Misericórdias Portuguesas, à esquerda, e Manoel Lourenço das Neves, presidente do Congresso Mundial das Misericórdias e provedor da Misericórdia de Santos, à direita. Ambos recebiam homenagens de Ariovaldo Gobatti Liandro, presidente da Pró-Saúde Cooperativa de Trabalho dos Profissionais de Saúde e diretor da Gobatti & Associados Desenvolvimento e Consultoria.  
     
 

A ACTA MEDICA MISERICORDIÆ

O Editor lembrou os lançamentos da revista Acta Medica Misericordiæ (7) e do livro sobre a Rainha Dona Leonor, ambos ocorridos em 1998, celebrando o pentacentenário da instituição das Misericórdias. O livro, de autoria de Manuel Ferreira da Silva, foi publicado pela União das Misericórdias Portuguesas. Quanto à revista:

A Acta Medica Misericordiæ, revista dedicada a registrar e divulgar a Ciência, a História, a Filosofia e a Arte das Misericórdias (2,6,8,10), distribuída todas as Santas Casas dos cinco continentes, procura também integrá-las. É distribuída, também, às principais faculdades de medicina do mundo e a instituições dedicadas à História da Medicina. O apoio moral e material do Senhor provedor Manoel Lourenço das Neves, mui digno sucessor de Braz Cubas na condução dos destinos da Misericórdia Santista e do Doutor Celso Schmalfuss Nogueira, incansável presidente do Centro de Estudos, têm sido fundamentais para a vida e o crescimento da Acta Medica Misericordiæ (14).

Em seguida, passou a abordar o momento histórico atual.

O FINAL DO MILÊNIO

Senhoras e Senhores congressistas. Vivemos um momento histórico especial. Vivemos o final deste milênio em que as nações modernas se formaram. O milênio em que as frágeis caravelas ibéricas, com pouca segurança, mas carregadas de fé e coragem, lançaram-se aos oceanos para a maior das descobertas européias de todos os tempos - a do Novo Mundo. Vivemos o final do milênio em que a Misericórdia de Lisboa foi fundada, servindo de modelo para outras milhares que foram semeadas pelos cinco continentes.

Vivemos também o final do século em que o colonialismo imperial desapareceu, em que a Humanidade aprendeu a dividir o átomo liberando energias imensas e criando novas formas de ameaça à Vida. O final do século do automóvel, que tanto conforto e comodidade deu ao homem e que também destroi a atmosfera do planeta. O século da expansão desenfreada das cidades e da agricultura, que está levando ao extermínio de grandes florestas e de milhares de espécies vivas. O século das duas guerras mundiais, do Holocausto, da destruição dos rios, dos mares e da Vida na Terra. Vivemos o final do século em que o Homem demonstrou ser mais um Homo prædator do que propriamente um Homo sapiens.

Vivemos o final do século do avião, do rádio, da televisão, do computador e da Internet, que aproximam todos os povos através da comunicação global fácil e ágil. O século dos antibióticos, da vacinação em massa, da Medicina Preventiva que quase duplicou a sobrevida média do ser humano e que triplicou sua população. O século em que a maioria das especialidades médicas se constituíram. O século da radiologia, da tomografia computadorizada, da ressonância magnética, da biologia molecular, da engenharia genética e de outrastécnicas sofisticadas que muito aumentaram o poder diagnóstico e terapêutico da Medicina. Vivemos o final do século dessa Medicina Tecnicista em que médicos, clínicas e hospitais por vezes se esquecem da simples, dedicada, pessoal, piedosa e eficaz Medicina Humanista de nossos antepassados.

Deixará saudades este século das poesias de Martins Fontes e de Vinícius de Morais, das músicas de Tom Jobim e de Chico Buarque, dos gols do Pelé e das cirurgias inovadoras de Pitanguy na Misericórdia do Rio de Janeiro. Deixará saudades este século em que todos nós, congressistas, vivemos boa parte de nossas vidas.

 
     
 
     
... . ....
Fig. 3. A partir da esquerda, Manoel Carlos Cálem Carneiro, presidente do Conselho Nacional das Misericórdias Portuguesas; Manoel Lourenço das Neves, presidente do Congresso Mundial das Misericórdias e provedor da Misericórdia de Santos. A seguir, os rotarianos: Altivo Ferreira, da Mesa Administrativa da Misericórdia de Santos; Henrique Camilo de Lellis, governador-eleito do Distrito 4420; Ivo Arzua Pereira, presidente da Confederação Mundial das Misericórdias; Paulo Viriato Corrêa da Costa, ex-presidente internacional do Rotary Club; Terezinha Bastos, presidente-eleita do R. C. de Santos; Constantino M. Conde, ex-governador do distrito; Eduardo Carvalhaes Jr, presidente do R. C. de Santos.   Fig. 4. No foyer do teatro municipal, Delci Gomes, médica chefe do Banco de Sangue; Hamleto Rosato, de A Tribuna; Manoel Lourenço das Neves, presidente do congresso; Manoel Carlos Cálem Carneiro, presidente do Conselho Nacional das Misericórdias Portuguesas; Elisa Alencar, vice-prefeita de Santos; Sylvio Soares Novaes, secretário do Conselho Deliberativo; José Alberto Monteclaro César, presidente da Federação das Misericórdias do Estado de São Paulo; José Gonçalves, mordomo.
     

A POESIA MISERICORDIANA

A seguir, o Editor apresentou algumas poesias humanistas misericordianas, de Guilherme de Almeida, Vinicius de Moraes, Waldemar do Valle Martins, Fernando Pessoa e Martins Fontes. Finalizando, apresentou a poesia "Voa, Poeta, Voa" 1 .

O sempre jovem poeta humanista misericordiano Eduardo Seabra de Mello Ballerini, que vive e voa numa dimensão superior, enviou-nos esses versos:

"Voa, poeta, voa
Com tuas asas sensíveis que agarram o tudo e o nada
Por entre mentes confusas que procuram verdades

Voa, poeta, voa

Com tuas idéias que nem mesmo conheces
Por entre estrelas que te convidam a brilhar

Voa, poeta, voa
Com teu corpo nu, despido de máscaras risonhas
Por entre verdes vales que azulam
Tua aura transparente.

Voa, poeta, voa
Com tuas mãos que choram tinta metilena, tua alma de papel
Por entre labirintos de infinitas saídas.

Voa, poeta
Com tuas veias que conduzem idéias
Por Vietnã, Veneza e Marte
Poeta sem direção, sem rumo, vê a luz
Por entre cadernos e almaços em branco

Poeta, nunca pares de voar
Se quebrares as asas, se perderes os olhos ou se estourarem tuas veias

Voa! Voa! Voa!
Poeta, Nunca pares de Voar
Mesmo que a terra firme, um dia, venha a te chamar."

 

EPÍLOGO

Senhoras e senhores congressistas, estamos atingindo o final deste conclave - "O Homem Unido Pelas Misericórdias". A diretoria do Centro de Estudos da Santa Casa de Santos e o corpo editorial da Acta Medica Misericordiæ agradecem a todos os congressistas, particularmente aos irmãos misericordianos que vieram de terras distantes, pela honra concedida a esta Terra da Caridade e da Liberdade* para sediar este histórico Congresso Mundial das Misericórdias. A todos, muito obrigado.

 

* Terrra da Caridade e da Liberdade - lema da cidade de Santos. Land of the Charity and of the Liberty - motto of the City of Santos.

REFERÊNCIAS

1. Ballerini ESM: Voa, Poeta, Voa ... São Paulo: EditorAção, 21 a . ed., 1999.

2. Ivamoto HS: Médicas, mães paternais, heroínas anônimas. A Tribuna 17 julho 1996, p. 18.

3. Ivamoto HS: Acta Medica Misericordiæ, dedicada às Santas Casas. Acta Medica Misericordiæ 1: 5-6 , 1998.

4. Ivamoto HS: A Santa Casa da Misericórdia de Santos: sinopse histórica. Acta Medica Misericordiæ 1: 7-10, 1998.

5. Ivamoto HS, Morales R, Ivamoto LS, Souza ESMV: The Santas Casas da Misericórdia: five centuries of philanthropy. Acta Medica Misericordiæ 1: 11-13, 1998.

6. Ivamoto HS: Misericórdias, o magnífico legado luso. Ser Médico (CREMESP) ano 2, nº 6: 38-39, 1999.

7. Ivamoto HS: Acta Medica Misericordiæ, revista da comunidade médica misericordiana. Acta Medica Misericordiæ 2: 6-7, 1999.

8. Ivamoto HS: O lançamento da Acta Medica Misericordiæ. Acta Medica Misericordiæ 2: 8-11, 1999.

9. Ivamoto HS: A Acta Medica Misericordiæ. Acta Medica Misericordiæ 2: 12-16, 1999.

10. Ivamoto HS: Victor Vallejo Fernandez, sessenta e dois anos de medicina misericordiana. Acta Medica Misericordiæ 2: 24-26, 1999.

11. Ivamoto HS, Nogueira CS: À comunidade médica misericordiana. Acta Medica Misericordiæ 2: 42, 1999.

12. Ivamoto HS: Meio milênio de filantropia. A Tribuna , 22 de novembro de 1999, p. A-7.

13. Ivamoto HS: Brás Cubas, o fundador da Misericórdia. A Tribuna 25 de novembro de 1999, p. A-9.

14. Ivamoto HS: Cláudio Luiz da Costa, restaurador em Santos. A Tribuna , 27 de novembro de 1999, p. A-10.

15. Ivamoto HS: Oração do Dia dos Médicos. Santos: Boletim Interno da Santa Casa da Misericórdia de Santos , novembro de 1999, número 109, p. 4.

16. Ivamoto HS, Nogueira CS, Morales R: Misericórdias, meio milênio de filantropia. Jornal Brasileiro de História da Medicina , ano 2, supl. 1, dezembro 1999, pp. 26-27.

 

O AUTOR: Editor da Acta Medica Misericordiæ, diretor de comunicação do Centro de Estudos, chefe do Serviço de Neurocirurgia da Santa Casa da Misericórdia de Santos, membro fundador da Sociedade Brasileira de História da Medicina, editor de revisão do Journal of Microsurgery, diplomado em Medicina pela Universidade de São Paulo e pelo Commonwealth of Pennsylvania, mestrando em Filosofia da Educação da Universidade Católica de Santos, professor de Propedêutica Neurológica da Universidade Metropolitana de Santos, professor do Centro Universitário Lusíada, membro titular da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia, da Sociedade Brasileira de Medicina Legal e da Surgical Society of the New York Medical College.

 

AGRADECIMENTOS: À Professora Marcia Pimenta e ao Monsenhor Nelson de Paula pelos esclarecimentos de terminologia latina. Pelas fotografias, do arquivo da Santa Casa da Misericórdia de Santos, feitas pelo Sr. José Eduardo Barbosa, jornalista.

 
 

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