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, 17 de maio de 2024.
06/06/2006
Volume 3 - Número 2
6- Estudo da eficácia e tolerabilidade da sibutramina em pacientes obesas

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Estudo da eficácia e tolerabilidade da sibutramina em pacientes obesas

A study of the efficacy and tolerability of sibutramine in obese patients

Hernani Pinto de Lemos Junior
Departamento de Medicina Interna, Serviço de Clínica Médica e Setor de Nutrição Enteral e Parenteral da Santa Casa da Misericórdia de Santos.

Lemos HP Jr.: A study of the efficacy and tolerability of sibutramine in obese patients. Acta Medica Misericordiæ 2000; 3(2):68-71

Resumo:

Em um estudo comparativo aberto feito em consultório particular, foram avaliados em doze pacientes obesos do sexo feminino, a eficácia e a tolerabilidade da sibutramina na redução do peso, durante 90 dias. Foram considerados peso, índice de massa corpórea, pressão arterial sistólica e diastólica, freqüência cardíaca e sintomas gerais. Resultados foram excelentes na perda de peso e bons nos parâmetros hemodinâmicos. Excelentes resultados ocorreram em 91,6% de todos os pacientes. Efeitos colaterais, ocorridos no início, foram mínimos e desapareceram durante o tratamento, sem necessidade de interrupção da droga. O autor conclui que a sibutramina pode ser uma boa escolha na perda de peso e abre novas perspectivas para um estudo mais amplo, nos quais a obesidade pode ser um fator de piora da doença primária.

Descritores: Obesidade. Depressores do apetite. Aminas.

Summary:

In a open comparative study made on 12 obese women, in a private medical office, the efficacy and tolerability of sibutramine in weight reduction were evaluated during 90 days. The weight, body mass index, systolic blood pressure, dyastolic blood pressure, heart rate and general symptons were analysed. Results were excellent in weight loss and good in hemodynamic patterns. Excellent results occurred in 91,6% of the patients.Side effects occurred in the begining, were minimal and disappeared during the study, without te need for interruption of the treatment. The author concludes that sibutramine can be a good choice in weight loss and opens perspectives for a larger study with patients in wich obesity may be a worsening factor concerning the primary disease.

Key words: Obesity. Appetite depressants. Amines.

Introdução

O tratamento da obesidade, mais especificamente nas pessoas jovens, para a prevenção das doenças dela decorrentes, é multidisciplinar e exige dieta, atividade física (Guy-Grand, 1997) e, em algumas vezes, assistência psicológica. A palavra dieta por ser utilizada de maneira muito genérica na imprensa leiga, deve ser modificada para reorganização alimentar e deve ter bases científicas explicadas aos pacientes (quantidade de calorias dos alimentos, gasto calórico diário, etc); a atividade física deve ser sempre estimulada e dimensionada pelo exame físico prévio; a avaliação psicológica deve ser feita porque os distúrbios psicológicos como bulemia nervosa, o descontrole alimentar episódico em indivíduos obesos e o transtorno do comer compulsivo, são condições de desequilibro emocional que invalidam qualquer orientação nutricional ou física e devem ser tratados por um especialista na área psíquica.

Apesar destes cuidados, é grande o número de pessoas que não conseguem perder peso e recorrem a ajuda de medicamentos, principalmente aqueles que inibem o apetite. Estes, como os derivados anfetamínicos, apesar da eficácia de seu efeito inibitório sobre o apetite (Silverstone,1986), exibem muitos efeitos colaterais indesejáveis, dirigidos para o sistema cardiovascular (aumento da pressão arterial, aumento da freqüência cardíaca, indução de arritmias, etc) e para o sistema nervoso central (insônia) e alguns que são até benéficos para alguns tipos de paciente como euforia e aumento da segurança (Silverstone,1992).

Considerações farmacológicas e experimentais

Mais recentemente surgiu a sibutramina, cloridrato de N-{1-[1-(4-Clorofenil)ciclobutil]-3-metibutil}-N, N-dimetilamina cloridrato monohidrato, uma amina terciária que sofre desmetilação rápida ao ser ingerida por animais ou seres humanos e que vem sendo usada no tratamento da obesidade. Após administração oral, a sibutramina é bem absorvida pelas vias digestivas. Os metabólitos farmacologicamente ativos, Me1 e Me2, atingem a concentração máxima em cerca de três horas, com meia vida de eliminação de quatorze a dezesseis horas, respectivamente. Estas propriedades farmacocinéticas permitem o emprego do medicamento em dose única diária. Entre 10 e 30 miligramas observou-se uma cinética linear, com proporcionalidade dos níveis sangüíneos às doses, sem aumento das meias vida de eliminação. Após doses repetidas, as concentrações dos metabólitos são atingidas em cerca de quatro dias.

Estudos "in vitro" mostram que a sibutramina age inibindo a recaptação de noradrenalina e serotonina, porém sem ação nos receptores serotoninérgicos, adrenérgicos, dopaminérgicos, muscarínicos, histamínicos, de glutamato e de benzodiazepínicos, em tecidos de ratos, cobaias e bovinos.

Este perfil seletivo de ação a diferencia dos derivados anfetamínicos e, segundo estudos clínicos, tem uma real eficácia (Lean, 1997), menos efeitos colaterais (Drowin,1994 e Hazemberg, 1996), eficácia mais prolongada (Bray et al.,1994 e Jones,1995).

Objetivos

O objetivo deste estudo é avaliar a eficácia na redução de peso de pacientes obesos, assim como a inexistência de efeitos colaterais sobre o sistema nervoso central e aparelho cardiovascular, atribuídos aos derivados anfetamínicos.

Metodologia

Em estudo retrospectivo realizado com pacientes do consultório, foram avaliados doze pacientes, todas do sexo feminino, com índice de massa corpórea entre 30 e 35 (classificação de obesidade), com idades que variaram de 22 a 38 anos, média de 30,5 anos. Os dados para análise estatística, teste T para observações pareadas (Vieira S, 1980) foram obtidos com zero e noventa dias baseado em estudos clínicos que mostram a eficácia da sibutramina melhor após 30 dias e, o tempo de noventa dias porque foi o tempo que mais pacientes existia para o estudo em questão ter uma análise estatística. Para a inclusão no estudo, todas as pacientes já haviam tentado a reorganização alimentar e a atividade física sem sucesso. Todas foram adequadamente orientadas sobre a alimentação e a atividade física e tratadas com sibutramina, 10 mg ao dia (dose que apresenta a melhor relação eficácia/tolerabilidade, segundo dados de arquivo), pela manhã, sem adição de nenhum medicamento.

Foram considerados critérios de exclusão para a seleção de pacientes: tratamentos anteriores com derivados anfetamínicos, mulheres em reposição hormonal, alterações do TSH, função renal ou hepática alterada, pacientes com palpitações ou antecedentes de palpitações, mesmo com eletrocardiograma normal.

Todas pacientes foram avaliadas em pressão arterial, freqüência cardíaca, peso e altura pelo médico no consultório com balança antropométrica de uso clínico e com esfigmomanômetro aneróide da marca Tycos.

Resultados

Todos os sintomas relatados no inicio do tratamento foram de pequena intensidade e não necessitaram a interrupção do tratamento. Os mais comuns foram: dor de cabeça (33,3%), secura na boca (25%), vertigem (16.6%) e náuseas (16,6%). Os demais, como anorexia, constipação e parestesia, foram tão pouco valorizados pelas próprias pacientes e, portanto, não computados.

Os exames laboratoriais no 90º dia não mostraram nenhuma alteração em relação aos exames iniciais: hemograma, TSH, TGO, TGP, creatinina, eletrocardiograma, mas, quanto aos lípides, duas pacientes que tinham triglicérides discretamente aumentados (entre 250 e 300 mg/dL), tiveram os níveis normalizados e, uma paciente que tinha o colesterol em 239, teve-o reduzido para 215 mg/dL.

Foi observado que os pacientes que tinham afinidade pelo exercício, isto é, já o praticavam antes, foram os que conseguiram melhores resultados na perda de peso.

Os dados hemodinâmicos não mostraram alterações significativas a nível clínico e estatístico, na pressão arterial sistólica e diastólica, e na freqüência cardíaca não tivemos alteração significativa a nível clínico porém significativa a nível estatístico (tabela 1). A analise estatística do peso e índice de massa corpórea foi significativa (tabela 2).

 

3.1. Tabela 1 - Dados hemodinâmicos: médias e desvio padrão

 
Pressão arterial (mmHg)
 
Sistólica
Diastólica
Freqüência cardíaca (bpm)
Início (0ºdia)
113,16 +/- 8,9730
71,41 +/- 6,6120
75,41 +/- 7,3788
Fim (90ºdia)
112,16 +/- 6,5064
70,58 +/- 4,3580
77,5 +/- 6,3098
 
t = 0,58 a 5%
t = 0,43 a 5%
t = 4,35 a 5%

 

3.2. Tabela 2 - Peso e IMC: média e desvio padrão

 
 
Peso
Índice de Massa Corpórea
Início (0ºdia)
80,03 +/- 4,2738
32,03+/- 1,4233
Fim (90ºdia)
75,38 +/- 6,3098
30,14+/-1,8146
 
t = 5,96 a 5%
t = 4,89 a 5%

 

Discussão

Os resultados deste estudo evidenciaram que a sibutramina apresentou uma boa redução do peso que variou de 1,400 Kg a 8,400 Kg com média de 4,6500 Kg em 11 pacientes e somente em uma paciente não houve perda alguma (gráfico 2); os dados do índice de massa corpórea corroboram este dado (gráfico 3).

Os efeitos colaterais relatados pelas pacientes foram pequenos, não persistentes e não necessitaram a interrupção do tratamento. Os dados hemodinâmicos nos mostram alterações mínimas na pressão arterial sistólica, diastólica (gráfico 4) e freqüência cardíaca sendo estatisticamente significantes somente nesta última. A variação da freqüência cardíaca foi pequena e assintomática analisando cada paciente (gráfico1). Quando foi feita a análise estatística, foi surpresa uma significância deste dado. Achamos que o número de pacientes foi pequeno e que esta alteração estatisticamente significante poderia ser modificada num número maior de pacientes. A importância deste dado é grande, porque muitos obesos podem ser portadores de uma patologia que seria beneficiada pela redução de peso e, que se realmente a sibutramina não influenciar na excitabilidade cardíaca, o uso desta pode se estender sem riscos a pacientes cardiopatas compensados.

Notoriamente, os efeitos adversos dos derivados anfetamínicos não foram observados neste estudo o que nos faz pensar que a sibutramina tem um sítio de ação específico, mais lento, mais eficaz, mais duradouro e que a denominação de sacietógeno cabe perfeitamente neste fármaco, diferenciado-o dos demais medicamentos utilizados na redução de peso. Este raciocínio clínico, baseado nos resultados obtidos, tem uma correlação com as considerações farmacológicas e experimentais mostradas no estudos "in vitro" realizadas em tecidos de ratos, cobaias e bovinos citados anteriormente na introdução.

 

.....
Gráfico 1
 
Gráfico 3
 
 
 
 
Gráfico 2
 
Gráfico 4

 

Conclusão

O efeito redutor do peso foi, clinica e estatisticamente, significante. Os efeitos colaterais não foram significativos. Não houve efeito significativo clínico ou estatístico na pressão arterial sistólica e diastólica. Não houve efeito clínico apreciável na freqüência cardíaca porém com efeito estatístico significativo. Não houve alterações negativas nos exames subsidiários.

REFERÊNCIAS

1. Bray GA et al: Sibutramine - dose response and long-term efficacy in weight loss. A double -blind study. Int J Obes 1994; 18 (suppl 2):60.

2. Dados de arquivo. Knoll Pharmaceuticals, Nottingham, Inglaterra.

3. Druin P, Hanotin C, Coreier S, et al: A dose ranging study: efficacy and tolerability of sibutramine in weight loss. Int J Obes 1994; 18 (Supl 2) : 60.

4. Guy-Grand B, Stock M, Lean M, et al: Discussion panel 2: the role of sibutramine in the treatment of obesity. Int J Obes 1997; 21 (supl 1):37:39.

5. Hazenberg BP, Johnson SG, Kelly F: Sibutramine in the treatment of obese subjects with hypertension . Int J Obes 1996; 20:156.

6. Jones SP, Smith IG, Kelly F , et al: Long-term weight loss with sibutramine. Int J Obes 1995; 19 (Suppl 2): 41.

7. Lean MEJ: Sibutramine- a review of clinical efficacy.Int J Obes 1997; 21 (Suppl 1):30-35.

8. Silverstone T: Appetite supressants. A review. Drugs 1992; 43:820-836.

9. Silverstone,T. Clinical use of appetite supressants. Drug Alcohol Depend. 1986; 17:151-167.

10. Vieira S: Introdução a Bioestatística (3.ed). Rio de Janeiro:Campus, 1980.

 

O AUTOR: Médico chefe do departamento de Medicina Interna, do serviço de Clínica Médica e do setor de Nutrição Enteral e Parenteral do hospital da Santa Casa da Misericórdia de Santos.

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