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, 17 de maio de 2024.
11/07/2006
Volume 4 - Número 1
4 - Manobra de Chandler após anestesia peribulbar para redução da pressão intraocular em facectomia

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Manobra de Chandler após anestesia peribulbar para redução da pressão intraocular em facectomia

Chandler maneuver following peribulbar anesthesia for reduction of intraocular pressure in facectomy

Marco Antônio Pires Melo, Eduardo Alonso Garcia
Serviço de Oftalmologia da Santa Casa da Misericórdia de Santos

Melo MAP, Garcia EA: Chandler maneuver following peribulbar anesthesia for reduction of intraocular pressure in facectomy. Acta Medica Misericordæ 2001; 4:29-31

Resumo:

Um grupo de 20 pacientes portadores de catarata e com pressão intraocular (PIO) pré-operatória inferior a 18 mmHg foi avaliado quanto às variações tonométricas no pós-bloqueio peribulbar imediato, 3 minutos e 5 minutos após manobra compressiva de Chandler. O aumento médio de PIO no pós bloqueio foi de 2,8 mmHg. A PIO diminuiu em média 3,2 mmHg após 3 minutos de massagem bidigital e 4,7 mmHg após 5 minutos. Mesmo com uma amostra reduzida de casos, o estudo sugere a manobra de Chandler por 5 minutos após bloqueio anestésico como método útil na prevenção de complicações intra-operatórias.

Descritores: Extração de catarata. Anestesia local. Pressão intra-ocular.

Summary:

A group of 20 patients with cataracts and intraocular pressure below 18 mmHg was evaluated over tonometric variations after peribulbar anesthesic block, 3 minutes and 5 minutes after Chandler's ocular compression. The medium value rises of the intraocular pressure was 2.8 mmHg immediately after the block. The intraocular pressure decreased a medium value of 3.2 mmHg after 3 minutes of compression and 4.7 mm Hg after 5 minutes. Although the number of cases is small, this study suggests that the compression for 5 minutes after anesthesic block is an useful way to prevent intraoperatory complications.

Key-words: Cataract extraction. Anesthesia, local. Intraocular pressure.

INTRODUÇÃO

A pressão intra-ocular (PIO) é um fator importante no pré-operatório imediato da cirurgia de catarata, após o alto volume da anestesia regional (peri-bulbar). Atkinson expressou a importância de um "olho macio" para evitar as complicações, particularmente a perda vítrea3. A massagem bidigital de Chandler é um método utilizado para dispersar o anestésico por toda órbita e para diminuir mecanicamente a PIO8. O tonômetro de Perkins, idealizado em 1965, é simples, portátil, não-invasivo e permite realizar a tonometria de aplanação em decúbito dorsal, facilitando o exame na sala de cirurgia9. Um padrão das variações tonométricas pós anestésicas da cirurgia de catarata foi demonstrado.

MATERIAL E MÉTODO

No intuito de determinar as alterações tonométricas após bloqueio anestésico (peri-bulbar), foram realizadas medidas da PIO com o paciente em decúbito dorsal, na sala cirúrgica, no pré-bloqueio, no pós-bloqueio imediato, 3 e 5 minutos após massagem bidigital do globo ocular.

Para a anestesia, foi empregada bupivacaina 0.75% com adrenalina 1:200.000 e hyalozyme 20.000 UTR (preparada em 5 ml de diluente) numa proporção de 20:1. O volume empregado variou de 7 ml a 15 ml, fracionados superior e inferiormente ao globo ocular com agulha 35 x 7.

Foram selecionados vinte pacientes, 10 masculinos e 10 femininos, que apresentavam apenas catarata senil, com idades variando de 41 a 80 anos, com a média de 63 anos.

Nenhum paciente examinado apresentava PIO superior a 18 mmHg no pré-operatório, tendo sido avaliados com tonômetro de Goldman. A assepsia do cone plástico do tonômetro foi realizado com hipoclorito de sódio a 1% por 15 minutos e enxaguados em soro fisiológico para seu uso2. Após a última medida, instilou-se antisséptico tópico à base de iodo a 5% no globo ocular.

RESULTADOS

Não foram verificadas diferenças significativas em relação a idade e sexo.

Quanto ao volume anestésico utilizado, que produziu em todos os casos perfeita analgesia e acinesia sem complicações efetivas, tendo havido apenas 2 casos de quemose, o valor médio foi de 10,2 ml.

A variação média de acréscimo da PIO após o bloqueio anestésico foi de 2,8 mmHg, com mínimo de 1 mmHg e máxima de 7 mmHg.

Após a manobra de Chandler por 3 minutos, observou-se um decréscimo médio de 3,2 mmHg em relação à PIO medida logo após a anestesia. Em apenas um caso houve manutenção da pressão.

Os valores encontrados após 5 minutos de massagem apresentaram um decréscimo médio de 4,7 mmHg ao valor pós-anestésico imediato. Em apenas 4 casos não houve diminuição da PIO com relação ao valor encontrado após 3 minutos de massagem bidigital.

A manobra de Chandler, segundo descrição de Pastor8, é realizada apertando o olho com os dedos, através de uma gaze, interrompendo a pressão a cada 30 segundos, por um tempo total de 3 a 4 minutos, produzindo uma certa hipotensão, que não é constante.

Após a década de 1970, a compressão orbitaria apresentou avanços com o balão de Honan e a bola de Gills. Outros autores desenvolveram uma série de inventos curiosos baseados todos em produzir uma pressão constante sobre o olho e órbita, conseguindo assim essa hipotensão pré-operatória prévia à abertura da câmara anterior, que para a maioria dos oftalmologistas está associada a uma menor incidência de complicações, sobretudo a perda vítrea.

A compressão mecânica tem suas complicações e algumas têm aparecido na literatura como o trabalho de Turut (1986) que aborda dois casos de oclusão de artérias retinianas e ciliares. Evidentemente não é fácil descartar outras possibilidades etiológicas como o efeito vasoconstritor dos anestésicos locais, ou um traumatismo vascular direto8.

CONCLUSÃO

Baseado nos registros tonométricos antes e após o bloqueio anestésico peri-bulbar com um volume máximo de 15 ml e após 3 e 5 minutos de massagem bidigital de Chandler, a PIO final, ou seja, aquela que o cirurgião irá encontrar no ato operatório, será em média 4,7 mmHg menor que a PIO no pós-bloqueio imediato.

Embora seja necessário um estudo mais amplo, com um número maior de casos, este estudo sugere a compressão orbitária de Chandler por 5 minutos, após o bloqueio anestésico, para uma melhor difusão do agente anestésico e uma hipotensão pré-operatória, no intuito de diminuir complicações, em especial a perda vítrea.

BIBLIOGRAFIA

1. Gillart T, Bazin JE, Montetagaud M, et al: The effects of volume and speed of injection in peribulbar anesthesia. Anaesthesia 1998; 53:486-491.

2. Gonçalves L: Assepsia do cone plástico do tonômetro de aplanação. Ver Bras Oftal 1989; 48:37-38.

3. Hamilton RC, Gimbel HV, Javitt JC: A prevenção das complicações da anestesia regional em oftalmologia. Cl Oft Am Norte 1990; 3: 111-112.

4. Magnonte DO, Bullock JD, Green WR: Ocular explosion after peribulbar anesthesia: case reported and experimental study. Br J Ophthalmology 1997; 109: 608-615.

5. Meyer D, Hamilton RC, Loken RG, et al: Effect of combined peribulbar and retrobulbar injection of large volumes of anesthesic agents on the intraocular pressure. Can J Ophthalmol 1992; 27:230-232.

6. Morgan JE, Chandna A: Intraocular pressure after peribulbar anaesthesia: is the Honan ballon necessary? Br.J.Ophthalmology 1995; 79: 46-49.

7. Ortiz M, Blanco D, Serra J, et al: Peribulbar anesthesia: the role of local anesthesic volumes and Thiomucase in motor block and intraocular pressure. Eur J Anesthesiology 1995; 12: 603-607.

8. Pastor JC: Anestesia en Oftalmologia. Barcelona: Ed.Doyma, 1990, pp. 34-35.

9. Smith GB: Anestesia Oftalmológica. Rio de Janeiro: Ed. Colina, 1983, pp. 23-26. OS AUTORES: M. A. P. Melo é oftalmologista, é ex-estagiário do Serviço de Oftalmologia da Santa Casa de Santos. E. A. Garcia é médico assistente do Serviço de Oftalmologia da Santa Casa de Santos, membro titular da Sociedade Brasileira de Oftalmologia e do Centro Brasileiro de Oftalmologia.

ENDEREÇO/ADDRESS: Dr. Eduardo Alonso Garcia, Serviço de Oftalmologia, Santa Casa da Misericórdia de Santos, Avenida Dr. Claudio Luiz da Costa, 50, Caixa Postal 739, Santos, SP, CEP 11075-900, Brasil. eduardo.garcia@canbras.net


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